quarta-feira, 30 de setembro de 2015




A Social-Democracia, hoje, dentro de um pensamento neo-contemporâneo trata-se de uma corrente política, não tão somente partidária, mas uma corrente de gestão governamental com aplicação ponderada no contexto jurídico, econômico e político dentro de uma visão social construída sob o manto do pluralismo e da moderação.

Diferente do socialismo ( embrião do comunismo utópico marxista ), a Social-Democracia foi moldada desde o início de seu surgimento com a argamassa do pluralismo político e da doutrina keynesiana ,combinando iniciativa privada com a um Estado regulador.

Com seu berço europeu, a Social-Democracia fez exsurgir algumas organizações sob a égide desta novel corrente política , que gradualmente colaboraram para formação política de vários países da Europa em especial a Europa do Norte e a Europa Central no final do século XIX.

Nos partidos/associações social-democratas, não haviam (e ainda não há) diferenças de cultura e estrutura ligadas às realidades nacionais, mas a sua história foi amplamente compartilhada dentro do arcabouço do pluralismo politico.

Essas entidades nasceram com e através do cruzamento de duas dinâmicas políticas, em primeiro lugar, a luta pelo sufrágio universal , ou seja, a própria democracia, o que logicamente vieram a se tornar entidades políticas democráticas, à época com forte atuação na França, no entanto por outro lado, a crítica do capitalismo, sua injustiça e irracionalidade fizeram frutificar partidos operários de inspiração marxista com uma ideologia estruturada e composta de tradições religiosas, impregnados de sindicalismo e dentro de uma corrente principalmente reformista.

Ao longo dos debates e das crises que atravessaram o socialismo europeu, incluindo a crise "revisionista" da década de 1900 , os partidos social-democratas recusaram-se à revolução violenta pregada pelo socialismo cientifico de Marx e Engels, porém ao mesmo tempo, esses partidos, com os sindicatos que estavam ligados a eles, vieram gradualmente transformando as sociedades liberais incluindo a questão social no seu “DNA”.

Com as grandes dificuldades de 1917, a Social-Democracia, tendo o comunismo como oposição direta, aceitou explicitamente a democracia pluralista, no entanto, ao contrário do liberalismo, ela opôs-se à economia de mercado com a legitimidade das demandas sociais, bem como enaltecendo o papel privilegiado do Estado.

Depois de 1918, os partidos social-democratas foram confrontados com o desafio de governar com empresas que se apresentavam tipicamente e fortemente capitalistas, além de realizarem frequentemente coligações com outras forças políticas, mas não estavam preparados para situações onde eles não poderiam implementar o seu "programa máximo", ou seja, a socialização dos meios de produção e troca.

Os primeiro governos social-democratas depois de 1918 tiveram experiências decepcionantes. As reformas sociais e econômicas foram implementadas, mas, ao mesmo tempo, os princípios da economia liberal surgiram para colocar um pouquinho de “sal no café”.

Já na década de 1930 e da crise econômica global iniciada em 1929, as dificuldades aumentaram. A ascensão do fascismo e do nazismo na Europa destruíram vários partidos, em particular os partidos Austríacos e Alemães, sobretudo, nestes anos a Social-Democracia começou a ser definida como uma política que saiu das contradições erigidas dentro do próprio socialismo europeu por um longo tempo. Assim, foi então na Suécia e na Noruega que a Social-Democracia foi aplicada pela primeira vez antes mesmo de influenciar todas as políticas democráticas sociais do período pós-guerra.

A ideia básica reformulada da moderna Social-Democracia à época era que a nacionalização da produção e meios de troca não eram necessárias para combater a irracionalidade e a injustiça do capitalismo. Os governos que queriam lutar contra a desigualdade, durante a realização de políticas econômicas eficazes, poderiam implementar políticas anticíclicas para controlar as flutuações do mercado, estimular o investimento, a proteção social, aumentar o nível de educação, etc., conciliando naturalmente questões inerentes ao capital com o social.


Foi justamente aí que exaltou-se o trabalho de Keynes ( doutrina Keyseniana ), que conciliou a iniciativa privada com a gestão democrática da economia, construindo uma doutrina econômica dentro da social-democracia.

Uma outra dimensão de experiência política da Social-Democracia foi a importância do pluralismo político e social.

A Social-Democracia não nega a realidade do conflito na sociedade, ela ainda apoia o reconhecimento de interesses, principalmente interesses de sindicatos e associações patronais, aplicando métodos de resolução de conflitos através da divisão/equalização de compromissos para com o Estado, portanto, passou a implementar procedimentos de negociação entre os diferentes atores da sociedade civil.

Daí conclui-se que a social-democrata não se apresenta apenas como uma forma de fazer política, ela é uma cultura política que parte do pluralismo social e defende piamente uma política de "moderação" dentro de uma estrutura organizacional orientada a negociar e consultar, tudo dentro de ações democráticas.

De forma ampla, as políticas sociais-democratas tiveram sucesso prático importante. Ao longo do anos 50 à 70 mostrou em seu exercício, em especial na Europa, que a luta contra a desigualdade de renda era possível, tanto que tornou-se mais baixa; a proteção social ficou mais ampla e desenvolvida resultando no melhor equilíbrio entre emprego, investimentos e salários. Tudo obra de países onde a social democracia teve o exercício do poder de forma duradoura , nada comparado com países comunistas à época.

No entanto desde o final dos anos 70, a Social-Democracia encontrou novas dificuldades. Os resultados das eleições tiveram flutuação significativa.


Para se ter uma ideia, nos anos de 1997 e 1998, a União Europeia contava com onze governos sociais – democratas e quinze trabalhistas e socialistas , falava-se até mesmo em uma "Europa-de-rosa", mas em 2002, além da Inglaterra, todos os governos social-democratas  ficaram em alerta e na situação de defensiva.

As principais causas desta fragilidade política foram econômicas, pois sustentaram, em certa medida, as dificuldades inerentes às políticas sociais-democraticas implementadas, ou seja, o custo orçamentário dos programas sociais, o aumento do desemprego nos anos 80 à 90, os inflames da política fiscal, a descentralização do sistema de relações industriais que tornou difícil os resultados políticos e etc. Mas tudo em função de causas externas extremamentes importantes , hoje reconhece-se, de forma resumida, como “globalização”.

A força do mercado financeiro, a evidente escalada de uma sociedade d conhecimento e da informação, o aumento da concorrência internacional, tudo provocou modificações nos pactos políticos do "compromisso nacional" tão evidente no período anterior.

A Estratégia tradicional da política keynesiana, incluindo a política monetária em conjunto com a política fiscal e déficits significativos já não poderiam sustentar a situação atual. A globalização fez com que ficasse difícil ser contra os ciclos econômicos dominantes atuais. Isto explica porque todos os governos social-democratas e parte socialistas, em diferentes momentos, terem revisto seus programas para permanecerem no jogo econômico internacional, forçando então a União Europeia agir com mais influência no fenômeno da globalização.

No entanto as mudanças econômicas também refletiram nas mudanças sociais e cultuais. A transformação do trabalho assalariado com o declínio da classe operária tradicional, e a existência de milhões de trabalhadores e empregados que viviam em condições de trabalho permeados pela precarização e isolamento, a importância das classes médias assalariadas, o grande lugar das mulheres no trabalho, o alongamento  do "momento" da juventude, e, ao mesmo tempo, o envelhecimento da população, a presença de populações de imigrantes, a força do individualismo, isso tudo enfraqueceu as estruturas tradicionais de representação implementadas pela Social-Democracia. Os sindicatos passaram a não ter a mesma homogeneidade que formou sua autonomia, logo os sociais-democratas e os partidos socialistas passaram a  atender diversos círculos eleitorais dentro dos mais voláteis interesses.


A identidade da Social-Democracia tornou-se, assim, nas últimas quase três décadas mais política e menos ideológica, sociológica e cultural. Tornou-se, portanto, mais frágil, dependente dos resultados de sua própria política, alimentando muito menos do que no passado um sentimento de poder. E isto tanto mais que enfrentar novos concorrentes políticos, partidos verdes que passaram defender valores pós-materialistas com grande influência na nova geração urbana, passaram a colidir com os partidos populistas que atraiam cada vez mais categorias populares as causas ideológicas defendidas.

Essas, então e já encerrando o compêndio, são as bases atuais do "compromisso social-democrata" que estão repensando uma nova era do capitalismo. Todas as partes, sociais-democratas, socialistas, comunistas, liberais fizeram e fazem o “dever de casa” e apresentam diuturnamente os seus programas e, com muito trabalho tentam adaptar as suas estruturas. Mas o debate nunca acaba. Várias tendências política-ideológicas são confrontadas sejam em quaisquer que sejam os partidos com mais ou menos influência na base governamental ou popular. Há até mesmo de se encarar nestes conflitos de correntes políticas um resultado abstrato de de um novo liberalismo social, o que certamente ofereceria uma nova atuação do liberalismo, que atenderia ao desejo de ordem e marca das classes populares.

Há de se admitir, há também uma "velha esquerda" nos partidos socialistas e social-democratas, perto das correntes mais críticas do capitalismo global que privilegia os gastos do governo com leis e normas rígidas impostas ao setor privado.

Essas oposições, conflito de forças ideológicas, econômicas e populares não simples de resumir. O caminho da renovação da Social-Democracia está ainda a ser determinado. Sua maior força sempre foi representar todas as partes que estruturam o Estado,  enfrentando conservadores , liberais e socialistas, no entanto sua maior fraqueza foi ao longo da história ter perdido a capacidade de definir um verdadeiro projeto coletivo que abarque questões sociais em harmonia com questões econômicas.

A vontade da Social-Democracia, é ser útil à todas as classes que compõem a sociedade.

Moacir Pinto
Um Social-Democrata

1 comentários:

  1. Olá, muito bom o artigo referente a Social Democracia.
    Toma a liberdade de divulgar o Blog sobre o interesse da abordagem.
    Grato Ay ...

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